O menos inteligente na sala…

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Era meu segundo dia naquele emprego. Trabalhei de dia e de noite todo nosso time foi convidado para um jantar na casa do diretor da nossa área. Eu sou tímido, introvertido, não muito adepto a rodas de conversa em geral e longe de ser um mestre na arte de me engajar em conversações com pessoas estranhas. Cheguei e fiquei meio quieto, observando.

O tempo foi passando, e minha vontade de enfiar a cabeça num vaso de plantas, como faz o avestruz na terra, e só sair quando aquilo acabasse foi ficando maior e maior. Em 45 minutos, vi meus colegas conversando em inglês, espanhol, chinês, francês, italiano e português. Com meu inglês “de buk is on de teibou” e meu espanhol “cueca cuela”, não ousei abrir minha boca.

Ainda no mesmo jantar vi um colega elogiando um quadro. Ele e a esposa do diretor então se engajaram numa conversa calorosa sobre arte, quadros, pinturas, exposições etc. O máximo que eu já tinha visto uma vez foi uma exposição no MASP. Fui obrigado, era trabalho da escola. Eu tive que entrar e reproduzir algum quadro, pintando eu mesmo. Desastre. Nada daquilo fazia sentido pra mim.

Depois começaram as conversas sobre viagens. Paris e seus museus, praias paradisíacas em ilhas remotas da Venezuela, tours pela Itália, passeios no Egito e até parques da Disney. Meu conceito de viagem era tipo, São Paulo – Osasco. Ou da minha casa no Taboão pra minha escola na Zona Norte.

Depois vieram os cursos. Cursos disso, curso daquilo. Harvard, Insead, MIT, USP. Business, artes, ballett, mergulho. Eu tinha feito uma escolinha de futebol de areia com 11 anos. O primeiro mês era grátis. Dei calote no segundo. Rá!

Dia desses participei de umas dinâmicas. Na mesma sala, o primeiro colocado do vestibular geral da FUVEST. Tipo, o cara que passou na frente de umas 100mil pessoas. O QI beirando 4 dígitos. Depois, uma menina que tinha vencido uma doença, era CEO de uma startup revolucionária com 24 anos, tinha feito o GMAT (aquele exame insano pra entrar no MBA) e a nota dela dava pra dividir por dois e ainda ser aprovada em Harvard e Stanford. Um moleque ultra-hepta-octa-campeão intergaláctico universal do sistema solar de olimpíadas de matemática. E eu, o Zé Mané. Vocês podem adivinhar quem se deu bem e quem não seu deu, certo? Não, não tem pegadinha. Eu rodei, me ferrei. Eles não.

Durante meu mestrado me sinto da mesma forma. Eu tenho a impressão (na verdade quase a certeza) que sou o menos inteligente de qualquer sala que eu entre. Isso não é falsa modéstia. Por fim, ao longo da minha vida religiosa, encontrei pessoas que por suas ações altruístas, corações bondosos e vidas dedicadas, também me fizeram me sentir um ser humano ruim, medíocre e egoísta.

A sensação de ser o menos inteligente da sala tem me acompanhado faz algum tempo. Mas se querem saber, eu adoro essa sensação! Estar rodeado de pessoas mais inteligentes e melhores do que eu (em múltiplos aspectos) tem dois efeitos, distintos mas relevantes: Por um lado, acaba com minha auto-estima, mas por outro me lembra que se eu parar, a distância aumenta e eu nunca vou deixar de ser o mais asno ou o menor de todos. Consigo enxergar claramente a quantidade de progresso que tentei impor a mim mesmo quando era o menos inteligente da sala. E também consigo ver claramente o meu nivel de desleixo e inércia quando eu era igual ou até mesmo um pouco mais bem preparado que meus pares.

Já ouvi que somos a média das cinco pessoas com quem passamos mais tempo. E isso faz muito sentido. Cercar-se de pessoas medíocres não nos tornará nada além de uma pessoa medíocre. O contrário é verdadeiro. “Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Pura e antiga sabedoria.

Quando penso sobre isso eu penso em duas coisas:

  1. As pessoas em geral querem estar perto de mim porque me veem como um modelo ou querem distância de mim por me enxergarem como uma âncora medíocre que as puxará pra baixo?
  2. As pessoas que me cercam são modelos ou são âncoras medíocres que estão me puxando para baixo?

“If you are the smartest person in the room, then you are in the wrong room”
(Se você é a pessoa mais inteligente na sala, então você está na sala errada)

Essa não é uma corrida contra outros, não é uma competição. Para mim, é uma corrida entre meu “eu potencial” e o meu “eu atual e real”.

Vale a reflexão! 🙂

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Fernando Schneider

Fernando Schneider

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